A princípio, a idéia de arrumar as malas e sair pelo mundo sem lenço e com pouco documento assusta, ao mesmo tempo em que atrai. Conhecer pessoas de culturas e nacionalidades diferentes, estar em um hotel ou albergue a cada semana, experimentar comidas exóticas, viver intensamente...Sonho? Não, realidade. Pelo menos para o estudante de Direito Felipe Silva Ferreira, 22 anos, que literalmente "caiu no mundo" junto com mais cinco amigos e visitou 27 países em oito meses.
A idéia de viajar pelo mundo surgiu após um intercâmbio nos Estados Unidos, ao participar do programa de Trabalho Remunerado para Universitários no Exterior (True), da World Study Educação Intercultural, no final de 2005. Lá, Felipe conheceu outros jovens com o mesmo desejo e, juntos, começaram a planejar a odisséia.
Para juntar dinheiro, Felipe e os amigos retornaram aos Estados Unidos em 2006 para trabalhar. "Eu já tinha algumas economias. E, nessa segunda viagem, escolhi ser garçom de um cassino por causa das gorjetas", relembra o jovem. Antes de partir, uma rápida passada pelo Brasil para se despedir da família, trancar a faculdade e organizar tudo o que precisava.
A volta ao mundo teve início nos Estados Unidos em junho de 2007. De lá, os amigos partiram para Bahamas, Cuba, Marrocos, Espanha, Bélgica, França, Holanda, Itália, Alemanha, Turquia, Grécia, Croácia, Hungria, Eslováquia, Polônia, África do Sul, Egito, Índia, Tailândia, Malásia, Austrália, entre outros países. A viagem terminou em fevereiro de 2008, com o retorno ao Brasil.
Apaixonados por surf, dos oito meses que passaram viajando, pelo menos dois foram percorrendo as praias paradisíacas da Tailândia e da Indonésia. "Na Europa e na África, ficamos no máximo sete dias em cada país. O nosso maior objetivo maior era surfar nas praias da Ásia", afirma Felipe.
Imprevistos
Embarcar em uma aventura como a de Felipe não é tão simples. Não basta ter ânimo e uma mochila nas costas. Para tornar a viagem possível, é bom fazer economia e não sair gastando tudo na primeira feira livre que vir pela frente. "Sempre dormíamos em albergues e pegávamos conduções nos horários mais baratos. A comida também não é cara, principalmente nos países asiáticos", ensina o estudante, que também optava por baladas e festas com entrada liberada.
Outro quesito importante para a viagem é o idioma. Nos países de língua não-inglesa, como boa parte da Europa e Ásia, a comunicação com os turistas é feita basicamente em inglês. Por isso, ter uma boa noção da língua para pedir informações é fundamental.
Além desses pré-requisitos básicos, para a viagem dos seus sonhos não se transformar em um pesadelo, é preciso muito jogo de cintura. Mala extraviada no aeroporto, burocracia e dificuldades de comunicação são alguns dos perrengues que, às vezes, fazem parte do pacote. "Nem tudo vai sair como o planejado. Às vezes, esperamos demais de algum lugar e, quando chegamos, não era nada daquilo. Mas também há muitas surpresas agradáveis pelo caminho. O importante é saber lidar com os imprevistos", avalia Felipe.
Mochileiros, uni-vos!
Quer viajar e não tem companhia? Não desanime. Há milhares de mochileiros espalhados pelo mundo a procura de um parceiro para as suas aventuras. O fórum virtual Mochileiros, por exemplo, é um ponto de encontro de brasileiros que planejam viagens para diversas partes do mundo. No fórum, mochileiros de primeira viagem têm acesso a diversas dicas sobre como arrumar a mala, equipamentos necessários, dicas de segurança, além de relatos de diversas viagens interessantes.
Outra opção para quem não sabe por onde começar a planejar a sua viagem são os blogs e sites de mochileiros experientes. A jornalista Raquel Verano, que mora no exterior desde 2005 e partiu para sua primeira volta ao mundo em outubro, mantém um site com dicas valiosas sobre viagens e curiosidades sobre os lugares por onde passa. Já no blog do estudante Felipe Silva Ferreira, o jovem conta todos os fatos marcantes de sua passagem por 27 países.
Bilhete de volta ao mundo
Se você quer viajar pelo mundo com um pouco mais de conforto, organização e segurança, vai uma dica: já existem empresas aéreas especializadas em programar roteiros para quem deseja viajar por um longo período. Essas empresas atuam juntas, na modalidade de pools. Isso porque uma única empresa não oferece vôos para todos os países.
Mas, para adquirir a passagem de volta ao mundo, deve-se estar atento para algumas regras: as passagens têm validade de um ano, e o trajeto deve começar e terminar no mesmo país. Cada empresa determina um número mínimo e máximo de milhas, o que vai determinar o preço dos bilhetes. Outra regra é sempre voar na mesma direção, para dar efetivamente a idéia de uma "volta ao mundo".
A Star Alliance é a mais antiga a oferecer esse serviço. No seu bilhete de volta ao mundo, precisa constar todos os trechos percorridos, e a empresa que vai emitir o bilhete deve ser a mesma que irá fazer o primeiro vôo intercontinental. Já na One World, o primeiro vôo precisa ter data definida, mas os demais podem ficar em aberto. Na Sky Team é preciso fazer um vôo sobre o Atlântico e sobre o Pacífico, e cada mudança de roteiro acarreta multa.
Confira alguns detalhes sobre como funcionam essas empresas:
Star Alliance
Agrega as maiores empresas aéreas do mundo, como a United Airlines e a Air China. É mais indicada para quem quer focar sua viagem no continente asiático. No site da empresa, é possível fazer a simulação de rotas e calcular os preços.
One World
Cobre cerca de 700 cidades em todo o mundo. É a única que oferece como opção as ilhas do Pacífico. No site da empresa, também dá para fazer simulações de rotas e preços.
Sky Team
É uma boa opção para quem quer conhecer o Leste Europeu, já que entre as empresas agregadas está a tcheca Czech Airlines. No site da empresa, há como simular alguns percursos.
Dicas importantes para quem quer viajar:
Visto
Antes de embarcar, é bom estar atento às exigências do visto de cada país, para evitar ser barrado no aeroporto. Uma dica é fazer uma lista com todos os países que pretende visitar e pesquisar todos os requisitos antes de chegar. Em alguns lugares da Ásia, o visto é relativamente fácil e pode ser obtido no aeroporto ou nos países vizinhos que estejam na sua rota. Já em outros lugares, como Estados Unidos e Austrália, só entra no país com a autorização previamente adquirida.
Vacinas
É importante tomá-las com antecedência, pois algumas só têm efeito depois de 10 dias, como a da febre amarela. Já os de hepatite são tomados em doses espaçadas. Importante consultar ainda quais países exigem certificado de vacina
Documentos
Tenha sempre em mãos seu documento de identidade, passaporte (dentro da validade), e fotografias 3X4. Uma dica é escaneá-la e mandar para o seu e-mail. Em caso de roubo ou perda, fica mais fácil tirar uma cópia. Não deixe de fazer também uma carteira internacional de estudantes, pois além de documento de identificação ela dá descontos em vários estabelecimentos.
Mochila (ou mala)
Lembre-se: é você quem vai levar a sua mala ou mochila para todos os lados. Ou seja, quanto mais pesada, pior. Se for usar mala, prefira as anatômicas e com rodinhas.
Albergue
Alguns albergues funcionam através de associações, como a Hostelling International do Albergue da Juventude, que abrange mais de quatro mil unidades em 70 países. Para se hospedar, tem que se associar e fazer reservas. Outros albergues autônomos só exigem reserva antecipada. Uma dica é consultar o site da Federação Brasileira de Albergues da Juventude: www.hostel.org.br.